Eu gostava de me poder sentar na
rua, mas não no chão e, de preferência, sem estar parada, enquanto bebo café em
pequenas chávenas brancas manchadas pelos meus lábios, e apenas os meus porque
tu estás longe e eu não gosto de partilhar com outros se não tu, e escrevo
poesia ou o que quer que seja em páginas brancas. Ver os dias passar e tudo
mudar, os ventos, as marés, a meteorologia porque o aquecimento global não é um
mito criado pelos chineses, ver as pessoas passar. De perna alçada, alternando
a cada 20 minutos porque me canso rápido, devanear no tempo e na calçada do
Porto, correndo possibilidades e impossibilidades que proponho a mim mesma,
trocando ideias absurdas com ninguém ou alguém que se sente ao meu lado. De ir
ali e acolá porque me dá na gana e porque nada me impede e porque sou livre e,
apesar de não conseguir voar, pensar que consigo porque tal me deixa feliz. Não
sou feliz, mas tento não viver imensamente perturbada. Existem demasiadas
perturbações e a minha cabeça não sabe lidar com ela, quanto mais com tudo o
resto. Gostava de poder assistir ao pôr-do-sol e ao luar, todas as noites,
antes de me deitar. Ou deitar-me e fingir que não tenho sono, que é coisa rara,
e ver as estrelas acima da minha cabeça no teto ou no céu. Deixar de esperar ou
ser mais paciente, usar cabelo curto, óculos escuros, calças pretas e gabardine
de modo a tornar-me invisível, ou então irreconhecível. Exercitar a língua
portuguesa dizendo “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite”, “obrigada” e “por
favor”. Importantíssimo: arrumar a cadeira após abandonar a mesa onde esta se
encontrava. Não deixar a caneta esquecida algures ou o caderno ou a vontade.
Tento interiorizar que não é fácil e exteriorizar que estou bem. E vou indo,
mesmo que a lado nenhum. E gosto.
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