04 outubro, 2017

Eu gostava de me poder sentar na rua, mas não no chão e, de preferência, sem estar parada, enquanto bebo café em pequenas chávenas brancas manchadas pelos meus lábios, e apenas os meus porque tu estás longe e eu não gosto de partilhar com outros se não tu, e escrevo poesia ou o que quer que seja em páginas brancas. Ver os dias passar e tudo mudar, os ventos, as marés, a meteorologia porque o aquecimento global não é um mito criado pelos chineses, ver as pessoas passar. De perna alçada, alternando a cada 20 minutos porque me canso rápido, devanear no tempo e na calçada do Porto, correndo possibilidades e impossibilidades que proponho a mim mesma, trocando ideias absurdas com ninguém ou alguém que se sente ao meu lado. De ir ali e acolá porque me dá na gana e porque nada me impede e porque sou livre e, apesar de não conseguir voar, pensar que consigo porque tal me deixa feliz. Não sou feliz, mas tento não viver imensamente perturbada. Existem demasiadas perturbações e a minha cabeça não sabe lidar com ela, quanto mais com tudo o resto. Gostava de poder assistir ao pôr-do-sol e ao luar, todas as noites, antes de me deitar. Ou deitar-me e fingir que não tenho sono, que é coisa rara, e ver as estrelas acima da minha cabeça no teto ou no céu. Deixar de esperar ou ser mais paciente, usar cabelo curto, óculos escuros, calças pretas e gabardine de modo a tornar-me invisível, ou então irreconhecível. Exercitar a língua portuguesa dizendo “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite”, “obrigada” e “por favor”. Importantíssimo: arrumar a cadeira após abandonar a mesa onde esta se encontrava. Não deixar a caneta esquecida algures ou o caderno ou a vontade. Tento interiorizar que não é fácil e exteriorizar que estou bem. E vou indo, mesmo que a lado nenhum. E gosto. 

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